1x04 Home is Wherever I'm With You


Quando olhávamos para eles, todos eles, tínhamos a impressão que tinham acabado de sair do colegial e jogaram tudo para o alto, deixaram tudo e todos para trás.

Alexander era o pior de todos, o mais desapegado, terrível. Desejava percorrer a maior parte do mundo, senão ele todo, por toda a vida. Conhecer pessoas, culturas, sabores, cheiros... E a partir do momento que fossem conhecidos e sentidos, fariam parte da sua essência, do seu espírito, da sua alma. Modificariam totalmente o seu ser e o seu estar. Sua grande ambição era abraçar o mundo. Mas não demorou muito para isso mudar. Não demorou muito para toda sua visão de mundo mudar. Não demorou para que o desapego a tudo e todos desse lugar a promessas de “vamos ficar juntos para sempre”.

Ela e ele se conheceram em um bar não muito famoso, não muito grande, não muito luxuoso, nem tampouco bonito e não muito bem visto pela “sociedade”. Apenas um bar que abrigava ele e sua gente nos momentos de alegria e, como a vida não era perfeita até ali, nem para eles, nos de desespero também.
Naquela noite, Alexander nos disse que um amigo iria tocar. "Apareçam, vão curtir!", ele nos falou. Nós fomos, mas Alexander... bem, ele também era desapegado a horário e se atrasou.

Antes dele, ela chegou. Parecia um tanto quanto deslocada, estava sozinha. Mas logo notamos que havíamos nos enganado, pouco importava se ela estava sozinha ou não, se conhecia aquela gente ou não, ela só estava ali... consigo mesma. Distribuía sorrisos para todos e se mexia graciosamente ao ritmo da música. Mas aí, em um segundo, tudo parou: seus olhos se encontraram, Alexander chegara.

Olharam-se pelo que pareceu uma eternidade, mas alguns poucos segundos se passaram. "Eu conheço você.", aproximou-se o jovem, encantado. "Creio que não, cavalheiro.", sorriu e se afastou. Mas Jade estava errada, eles se conheciam sim. Talvez não desta, mas de outras vidas. Em algum momento, temos certeza, seus destinos já tinham se cruzado antes e, agora, tornaram-se a se esbarrar.

"Você bebe alguma coisa?"
Estava feito. Alexander e a menina do olhos faiscantes beberam, jogaram sinuca (ele estava deixando ela ganhar, nunca fizera isso!) e, como esperado, reconheceram-se. E então bateram as doze badaladas. O encanto não se desfez.
"Bom, agora tenho que ir, sir.", despediu-se a garota indo em direção à porta, deixando o rapaz ali, parado, sem saber o que fazer.
"Alexander!", gritou à moça.
"Não precisava ter me deixado ganhar, Alexander!", berrou de volta, sorrindo. Foi embora.
Mas não demoraria muito para se reencontrarem, dali a poucas horas estariam juntos novamente. Jade era o nome da menina que tirara seu sono na noite anterior, ficou sabendo quando se esbarraram, pela manhã, em algum lugar da cidade, já perdera o rumo em meio aos pensamentos. Descobriu também que Jade (que nome!), assim como ele, desejava sair, sem destino, pelo mundo e absorver tudo o que iria conhecer. Mas faltava alguma coisa para que assim o fizesse, um motivo, um empurrão... Mas estava ali, parado na sua frente - mostrando-lhe os discos perfeitos para cada vitrola que estava exposta diante deles na vitrine de um antiquário -, o motivo e o empurrão que precisava. Ele sorriu.

As horas seguintes Alexander e Jade passaram conosco e mais alguns amigos, sentados na grama, cantando, rindo, correndo... Alexander contou-lhe os planos de viver por aí, longe de casa, buscando aventuras e nada mais. E ela, ah, ela amou a ideia! Mas hesitou quando convidada a vir com nosso grupo. Foi embora...

Encontraram o bilhete assim que acordaram, não deu tempo de se despedirem, que pena. Eles a amavam tanto e ela os amava também, profundamente.

Jade voltara ao lugar onde passaram a noite e ele estava lá, como disse que estaria. Ele a amava tanto e ela o amava também, profundamente. Ali a vida começara a ser perfeita. Foram embora.



Inspiração para a história:




Postado originalmente em 11/07/2011.

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